quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO TEM DOIS NOVOS BISPOS AUXILIARES NOMEADOS PELO PAPA FRANCISCO


Nossa querida Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro ganha, com a graça de Deus, no dia de hoje, 7 de dezembro de 2016, Dia de Santo Ambrósio e véspera da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria Santíssima, dois novos bispos auxiliares: Monsenhor Joel Portella Amado e Monsenhor Paulo Alves Romão. Para mim é um grande presente de aniversário ao completar neste dia 42 anos de ordenação presbiteral. Agradeço ao Papa Francisco ter-nos concedido esses auxiliares de que tanto necessitamos. É uma boa notícia em meio a tantas situações de conflito que ora vivemos. São novos sucessores dos Apóstolos para servirem a Igreja.


1.  Significado da Arquidiocese e a missão de seu Pastor Próprio: o Bispo Diocesano.

Desejo, dentro deste importante acontecimento, refletir com nossos prezados leitores sobre o significado pastoral, teológico e canônico deste momento da vida de nossa Igreja particular. Embora todos saibam que o Rio é uma Arquidiocese e, por isso, tem à frente, como primeiro servidor, um Arcebispo, usarei, no texto, os termos Bispo diocesano, Bispo auxiliar e Diocese, uma vez que essas palavras são comuns à praxe pastoral ao passo que os apelativos Arcebispo e Arquidiocese se referem mais a uma questão canônico-administrativa.

Convém iniciar lembrando que “a Diocese é uma porção do Povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a cooperação do presbitério, de modo tal que, unindo-se ela ao seu pastor e, pelo Evangelho e pela Eucaristia, reunida por ele no Espírito Santo, constitua uma Igreja particular, na qual está verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica” (Código de Direito Canônico, cânon 369).


2.  Bispos auxiliares e a necessidade pastoral.

Pois bem, essa Diocese tem à frente um Bispo, chamado de diocesano, pois é o primeiro responsável no serviço do Povo de Deus a ele confiado. Em circunstâncias de grandes necessidades pastorais, o Bispo diocesano pode pedir à Santa Sé um ou mais bispos auxiliares. Estes são chamados de titulares, pois recebem o título de uma antiga diocese que havia outrora, mas hoje não mais existe. Eles ajudam ao Bispo diocesano nos trabalhos pastorais sem direito certo à sucessão. Quem pode suceder um Bispo diocesano, em funções especiais (limite de idade, doença etc.) é o Bispo coadjutor, não, porém, o auxiliar (cf. cânones 376 e 403, § 1-3). Os auxiliares ou coadjutores agem dentro da Diocese de acordo com as prescrições dos cânones 403-411 e de mais algum documento dado em sua nomeação.

Ao falar isso, lembramo-nos de uma antiquíssima tradição da Igreja que diz estar ela congregada ou reunida em torno de seu Pastor, segundo Santo Inácio de Antioquia, no início do século II, ao escrever: “Sem o Bispo não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape (Eucaristia). Tudo, porém, que ele aprovar seja agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer, seja seguro e legítimo” (Carta aos Esmirnenses, 8).


3.  Da missão episcopal.

O sacerdote nomeado para o ministério episcopal passa a ser, automaticamente, chamado de Monsenhor até que receba a sagração – aí tem o termo Dom antes do nome – em uma bela cerimônia na qual devem estar presentes um Bispo como sagrante principal e mais dois co-sagrantes ao menos, para dar autêntico significado à colegialidade apostólica desejada por Cristo ao constituir os Apóstolos e seus sucessores. Via de regra, um número maior de Bispos tomam parte dessas cerimônias, demonstrando, assim, apoio e fraternidade colegial com o recém-sagrado (cf. cânon 1014).

É importante ainda, penso, lembrar aqui um ensinamento de Dom Dadeus Grings, nosso amado irmão no episcopado de quem fui Coordenador de Pastoral e foi um dos meus co-sagrantes, a respeito da função do Bispo em sua Diocese. Ele “possui ‘todo poder ordinário próprio e imediato’, que se requer para o exercício de sua tarefa pastoral, exceto naquelas causas que o Sumo Pontífice houve por bem reservar a si” (Curso de Direito Canônico. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2004, p. 25).

Como se vê, na Igreja vigora o princípio da subsidiariedade, ou seja, o Bispo tem completa autonomia em sua Diocese naquilo que diz respeito à sua missão de Pastor daquele Povo a ele confiado.

E qual é essa função do Bispo em linhas gerais? – É a de ser, antes de tudo e acima de tudo Pastor, aquele que cuida de suas ovelhas, especialmente as mais feridas e necessitadas em suas periferias existenciais. Ele não é o “homem de gabinete”, mas, sim, aquele que está no meio do seu povo dando exemplo do serviço, pois se é tido como o primeiro ou o maior, então deverá ser aquele que a todos serve (cf. Lc 22,27).


4.  O que espera o Papa Francisco de um bispo hoje?

Aliás, o Papa Francisco voltou a lembrar, recentemente, no Jubileu dos Núncios Apostólicos que eles (os Núncios) devem indicar Bispos com o seguinte perfil para os dias de hoje: “testemunhas do Ressuscitado e não portadores de currículos; Bispos orantes, familiarizados com as coisas do ‘alto’ e não esmagados pelo peso do ‘baixo’; Bispos capazes de entrar ‘com paciência’ na presença de Deus, de modo a possuir a liberdade de não atraiçoar o Querigma que lhes foi confiado; Bispos pastores e não príncipes e funcionários.” (Discurso do Papa Francisco aos participantes do Encontro dos Núncios Apostólicos, de 17/09/16, www.vatican.va).

Ao Bispo não cabe apenas a preocupação “com os de dentro”, mas também com as ovelhas feridas e dispersas, especialmente para com aqueles que abandonaram os sacramentos, a participação na comunidade, a oração, a fé... Os fiéis de outros ritos ou os irmãos de outras confissões religiosas, promovendo o sadio ecumenismo, o interesse por buscar os não batizados, bem como ser um verdadeiro pai ao seu presbitério: é preciso ouvi-los e ampará-los, especialmente nos momentos mais difíceis de suas vidas (dificuldades pessoais, pastorais, crises diversas etc.), além de trabalhar na pesca das vocações sacerdotais, consagradas e leigas de que a Igreja tanto necessita.


5.  Profunda unidade e íntima sintonia dos Bispos Auxiliares com o seu Bispo Diocesano.

Tem o Bispo diocesano e os auxiliares com ele – em profunda sintonia – a missão tríplice de: 1) evangelizar e defender a ortodoxia da fé; 2) santificar, trabalhando com redobrado ardor a fim de que os fiéis cresçam na graça divina, além do mais, de dar exemplo de uma vida santa, caridosa, humilde, simples, rezando pelo seu povo e 3) como governante da Diocese cabe-lhe o poder executivo, legislativo e judiciário a fim de que seja promovido o bem comum e os trabalhos pastorais necessários entre os seus, de acordo com a realidade na qual ele está inserido.

Tudo isso há de ser ponderado com a mente aberta e o coração elevado a Deus, cheio de amor para com o próximo. E aqui, como sempre faço, volto-me às sábias palavras do Papa Francisco: “O povo percorre com dificuldade a planície do dia-a-dia, e precisa de ser guiado por quem é capaz de ver as coisas do alto. Por isso, nunca devemos perder de vista as necessidades das Igrejas particulares às quais devemos providenciar. Não existe um Pastor standard para todas as Igrejas. Cristo conhece a singularidade do Pastor de que cada Igreja necessita para que responda às suas necessidades e a ajude a realizar as suas potencialidades. O nosso desafio é entrar na perspectiva de Cristo, tendo em consideração esta singularidade das Igrejas particulares” (Discurso do Papa Francisco na Reunião da Congregação para os Bispos, 27/02/14, www.vatican.va).


6.     Os bispos devem ser testemunhas do Ressuscitado.

Os Bispos devemos ser testemunhas do Ressuscitado. “Quem é uma testemunha do Ressuscitado? É quem seguiu Jesus desde o início e é constituído com os Apóstolos testemunha da sua Ressurreição. Também para nós é este o critério unificador: o Bispo é aquele que sabe tornar atual tudo o que aconteceu a Jesus e, sobretudo, sabe, juntamente com a Igreja, fazer-se testemunha da sua Ressurreição. O Bispo é antes de tudo um mártir do Ressuscitado. Não uma testemunha isolada, mas juntamente com a Igreja. A sua vida e o seu ministério devem tornar credível a Ressurreição. Unindo-se a Cristo na cruz da verdadeira entrega de si, faz jorrar para a própria Igreja a vida que não morre. A coragem de morrer, a generosidade de oferecer a própria vida e de se consumir pelo rebanho estão inscritos no ‘DNA’ do episcopado. A renúncia e o sacrifício são conaturais com a missão episcopal. E desejo frisar isto: a renúncia e o sacrifício são congênitos à missão episcopal. O episcopado não é para si mas para a Igreja, para a grei, sobretudo para aqueles que segundo o mundo são descartáveis” (idem).


7.  Os bispos devem pregar o Evangelho e viver em íntima oração com Deus em favor da santificação do Povo de Deus.

Deve o Bispo ser o homem do anúncio, da oração e, como já mencionava, o Pastor, aquele que não teme se sujar pelas ovelhas próximas ou perdidas. Aquele desejoso de gastar-se pelo Reino de Deus que é a Igreja no meio do seu Povo, cheio de tantos desafios e dificuldades.


8. O bispo deve estar no meio dos mais pobres e dos descartados.

Reina ainda a banalização da vida nos contextos que o Papa João Paulo II chamou de “cultura da morte” e Francisco tem alcunhado de “cultura do descartável”, e aqui pensamos em todos os excluídos da vida sem culpa própria, como aqueles que no ventre materno se acham ameaçados de morte com o aval do Estado ou os doentes em fase terminal abandonados por falta de cuidados, às vezes em situações piores do que a de países em guerra declarada. Esta é um pouco da realidade que espera nossos novos auxiliares, mas, certamente, a graça de Deus nunca lhes faltará.


9.  Três segredos de um bispo virtuoso: ser caridoso, ser vínculo de comunhão e ter paciência.

Creio caber ainda uma palavra sobre a ideia que todos temos quando nos tornamos servidores no sentido de desejar mudar ou reformar algumas coisas vistas à nossa frente, ainda que nem sempre aquilo seja o mais ideal. Como, então fazer? – Saber manter os três princípios que a sábia tradição da Igreja oferece para essas ocasiões: 1) dar primazia à caridade e aos sérios objetivos pastorais sobre as “belas ideias”. 2) permanecer na comunhão com a Igreja: tudo aquilo que vem de Deus nunca separa, sempre une. Por isso, a “bela ideia” de mudança há de estar em sintonia com a caminhada da Diocese e da Igreja em todo o mundo e 3) saber com paciência aguardar os momentos oportunos. Sim, aquele que busca renovar as coisas com Deus sabe esperar a lentidão das criaturas e o amadurecimento de cada um a fim de não se lançar, de modo afoito, em uma iniciativa cuja prosperidade pode ficar ameaçada pela pressa.


10.  Da trajetória pessoal dos novos auxiliares:

10.1 – Monsenhor Joel Portella Amado.

Monsenhor Joel Portella Amado pertence ao clero diocesano do Rio de Janeiro. Nascido em 2 de outubro de 1954, na cidade do Rio de Janeiro, teve a formação para o sacerdócio no Seminário Arquidiocesano São José. Foi ordenado presbítero em 12 de outubro de 1982 pela imposição das mãos de meu amado predecessor, Cardeal Eugênio de Araújo Sales. Desde a sua ordenação, foi pároco nas Paróquias Jesus Ressuscitado (1982-1991) e Nossa Senhora da Vitória (1991-2014). Até o dia de hoje é o pároco da Paróquia São Sebastião, Catedral Metropolitana. Tem exercido, ainda, outras funções em nível arquidiocesano, tais como: Vigário Forâneo, Membro do Conselho Presbiteral e do Colégio de Consultores, Coordenador de Pastoral e Vigário Geral. Foi membro do INP – Instituto Nacional de Pastoral (2008-2012) e membro de reflexão teológico-pastoral do CELAM (2014-2016). Membro do colendo Cabido Metropolitano e nomeado Capelão de Sua Santidade, pelo Papa Bento XVI. É, ainda, membro da Academia Luso-Brasileira de Letras. Possui graduação em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1977), graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1982), mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1987) e doutorado em Teologia pela mesma Universidade (1999). Tem larga e festejada experiência na área de Teologia, com ênfase em Antropologia Teológica e Teologia Pastoral, atuando principalmente nos seguintes temas: evangelização, inculturação, pastoral urbana, teologia e urbanização. Atualmente é professor no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Está sendo nomeado hoje Bispo Titular de “Carmeiano” e Auxiliar de nossa Arquidiocese.

10.2 - Padre Paulo Alves Romão.

Paulo Alves Romão, nascido a 6 de abril de 1964, em Barra do Jacaré, Diocese de Jacarezinho, Estado do Paraná é também do clero arquidiocesano. Obteve o grau de bacharel em Filosofia na Faculdade Eclesiástica João Paulo II (1991-1992) e de bacharel em Teologia pelo Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro (1993-1997). Obteve o grau de mestre (1997-1998) e de doutor em Teologia sistemática pastoral (2007-2012) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com a tese A estrutura sacramental na história salvífica: estudo comparado Edward Schillebeekx e Luigi Giussani. Foi ordenado sacerdote em 28 de junho de 1997 pela Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, na qual exerceu as seguintes funções: Diretor espiritual do Seminário Arquidiocesano São José (1997-1999), Professor do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1998-2016); responsável diocesano do Movimento Comunhão e Libertação (2001-2016); diretor do Departamento de Ensino Religioso da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (2002-2016), Professor do Instituto Superior de Ciências Religiosas (2004-2005), Responsável pela Pastoral da Educação desta Arquidiocese (2009-2016), Pároco da Paróquia Bom Pastor (2011-2016) e Diretor espiritual do Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos (2016). Hoje foi nomeado Bispo Titular de Calama, Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.


11. UT OMNES UNUM SINT.

É uma grande alegria receber dois bispos auxiliares que são do amado clero do Rio de Janeiro. Isso demonstra a vitalidade e o valor dos padres formados em nossa Arquidiocese. Meu afetuoso cumprimento ao clero arquidiocesano na certeza de que os senhores irão acolher com carinho os novos colaboradores que o Papa Francisco envia para comigo e sob a minha direção de Bispo Diocesano possamos fazer acontecer a ação pastoral em nossa querida Arquidiocese buscando sempre o ideal que deve nortear a todos: bispo diocesano e seus bispos auxiliares, clero e povo santo de Deus: “Ut omnes unum sint”, ou seja “de modo que todos sejam um em Cristo!”.

Por fim, gostaria de pedir ao nosso querido Povo de Deus que acolha com alegria, entusiasmo e gratidão ao Senhor os nossos novos Bispos auxiliares. Eles vêm nos ajudar a caminhar melhor. Eles são sucessores dos Apóstolos, parte do colégio episcopal assim como todos os demais Bispos – Eméritos, Arcebispos e Senhores Cardeais – e nessa condição cabe-lhes as mesmas faculdades que Jesus deu aos doze (cf. Mt 18,18). Faz-se, portanto, a distinção na forma de servir, mas não no ministério ou no modo de ser Bispo. Este é e sempre será um sucessor do Colégio Apostólico até o fim dos tempos. A ordenação de ambos está agendada para o dia 28 de Janeiro de 2016, sábado, às 9 horas da manhã em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião.

Temos consciência das realidades que vivemos no mundo, no país, em nosso estado e cidade. Sabemos bem o terreno onde pisamos e como as pessoas tem necessidade de encontrar luzes em suas vidas. Ao termos mais dois auxiliares temos certeza de que irão colaborar para estar junto aos que sofrem e necessitam assim como nos ajudarão a semear esperança e paz.

Monsenhor Joel Portella Amado e Monsenhor Paulo Alves Romão, sejam bem-vindos! Nós os acolhemos como bons operários da vinha do Senhor nesta Igreja particular do Rio de Janeiro para servir destemidamente, particularmente os mais pobres e necessitados, para vivenciar a caridade pastoral, construindo vínculo de comunhão com o Bispo Diocesano, dispensando os mistérios sagrados, com a preciosa ajuda do amado clero, manifestando a todos os homens e as mulheres a virtude paciência na construção da misericórdia e da paz!


Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


Fonte: ARQRIO


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